Reportagem do Portal Uol publicada nesta segunda-feira (24), revela uma movimentação financeira suspeita entre a esposa do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, a advogada Mirian Ribeiro Rodrigues, e a esposa do desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), César Jatahy, Aline Gonçalves de Souza, que também é advogada.
A informação consta no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) encaminhada à Policia Federal no âmbito das investigações de um possível esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e vários Tribunais de Justiças do país.
Andreson é considerado o principal operador do esquema, e tinha como aliado o advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023. A partir da análise do seu celular, a PF encontrou conversas suspeitas envolvendo desembargadores, empresários e assessores de ministros do STJ.
Segundo a reportagem do UOL, uma das transações citadas no relatório do Coaf foi um pagamento feito por Mirian ao escritório da advogada Aline Gonçalves de Sousa, no valor de R$ 938 mil em 2023. Ao UOL, Aline disse que foi contratada por Mirian para atuar em um processo judicial, mas não quis dar detalhes sobre o caso.
"Fui contratada pelo escritório Mirian Ribeiro para atuar como advogada em um processo judicial. Prestei o serviço e recebi meus honorários", afirmou.
Questionada se foi contratada para atuar em algum caso no mesmo tribunal onde seu marido é desembargador, Aline disse que não poderia divulgar detalhes dos processos em que atua "por uma questão de ética e sigilo profissional", traz a reportagem.
Mirian atua como advogada em ao menos 15 processos sob tramitação no TRF-1. Nenhum está na relatória de César Jatahy. Até agora, entretanto, não havia surgido na investigação nenhuma conexão deles com o TRF-1. O relatório do Coaf apontou a existência de movimentações financeiras de Andreson e Mirian incompatíveis com a capacidade financeira e as atividades declaradas por eles às instituições bancárias nas quais possuem contas.
No total, o relatório do Coaf apontou a existência de movimentação financeira de R$ 2,8 bilhões em transações atípicas envolvendo 802 pessoas físicas e 686 empresas entre 2018 e 2024. Por não se tratar de uma quebra de sigilo, o Coaf identificou somente algumas transações sob suspeita envolvendo o casal, mas não identificou a totalidade de recebimentos e transferências de recursos de suas contas. O material está sob análise da PF, que também obteve a quebra dos sigilos bancários dos personagens envolvidos.
A reportagem ainda revela pagamentos de R$ 15 milhões da empresa JBS a Mirian. O mesmo relatório detectou duas transferências da JBS ao escritório de Mirian. Uma delas, em 1º de junho de 2023, no valor de R$ 11,5 milhões, e outra em 16 de junho de 2023, no valor de R$ 4,6 milhões.
No relatório, o Coaf apontou que Mirian explicou à sua instituição bancária que o valor recebido seria referente a honorários pagos pela JBS por seus serviços advocatícios. "Porém, o valor recebido é muito alto e notamos que todo mês há crédito da empresa JBS. Destacamos, que a cooperada não possui capacidade financeira declarada para as movimentações realizadas. O total movimentado a crédito representa cerca de sete vezes o valor do faturamento cadastrado, ou seja, superou [em] aproximadamente R$ 15 milhões a capacidade declarada", diz o relatório do Coaf, com base em informações prestadas pelo banco responsável pela conta bancária do escritório de Mirian.
Em nota, a JBS afirmou que os pagamentos se referem a "honorários". "Qualquer pagamento feito ao escritório se refere a honorários - êxito ou pró-labore - em processos da empresa. Todos os serviços possuem efetiva comprovação nos autos desses procedimentos. O escritório não presta mais serviços para a JBS", disse a empresa. (Com informações do UOL)